A Ranicultura refere-se à Criação de Rãs e é um ramo da aquicultura que tem um grande potencial económico. Mas é uma atividade profissional exigente que requer conhecimentos técnicos e muito empenho. Descobre tudo sobre esta área profissional…
O termo Ranicultura deriva do nome Ranidae que se refere às chamadas rãs “verdadeiras”. Portanto, as rãs desta família são as mais utilizadas em produções industriais que se fazem em diversos países do mundo.
O Brasil é um dos maiores produtores mundiais, atrás de Taiwan e da Indonésia. Em Portugal, a produção de rãs tem pouca expressão, mas é uma área de negócio com grande potencial de crescimento e de rentabilidade.
Por outro lado, a França é o principal comprador mundial, importando tanto animais vivos como carne congelada. A saborosa carne de rã serve-se em restaurantes sofisticados e é uma iguaria.
Contudo, também se vende a pele e usa-se o óleo de rã em medicamentos e cosméticos. Além disso, também há quem tenha estes anfíbios como animais de estimação ou para ornamentação em jardins, por exemplo.
Mas vem daí saber mais sobre esta área tão intrigante…
O que é a Ranicultura
A Ranicultura é a Criação de Rãs de forma industrial. Portanto, os produtores recorrem aos chamados ranários, onde os animais ficam desde a fase do ovo até ao seu abate ou à venda, o que pode durar 7 meses, mas depende das condições ambientais e da alimentação.
A rã-touro americana (Lithobates catesbeianus) é uma das mais produzidas a nível mundial.
No Brasil, criam-se várias espécies, incluindo a rã-touro, a rã-pimenta, a rã-manteiga e a paulistinha. Mas a que melhor se dá em cativeiro é a rã-touro gigante que também é chamada de rã mugidora e bulfrog americana (Rana catesbeiana).
A rã-touro gigante tem uma cor entre o verde-claro e o cinza-escuro, sendo considerada a terceira maior do mundo, pois pode atingir um peso de 2,5 quilos.
Além disso, pode viver até aos 16 anos e reproduz-se durante uma média de 10 anos, pelo que é uma espécie bem rentável.
Rã-touro está proibida em Portugal
Em Portugal, a criação da rã-touro foi proibida e nem se pode ter como animal de estimação ou ornamental.
Já em Espanha, a Rana perezi que também é comum em Portugal, é a rã mais produzida.
Mas especialistas de Ranicultura aconselham a produção de rãs da linha Rivan 92 que “nasceu” em França, com a melhoria genética da Rana ridibunda. Assim, notam que tem boas condições de viabilidade para o clima português.
É importante ter em conta que a Ranicultura implica o cumprimento de critérios rigorosos, pois a lei é muito apertada em termos das espécies que se podem criar.
Aliás, a rã-touro está proibida em toda a Europa, pois implica alto risco ecológico em caso de fuga para o meio ambiente. É que esta rã é uma caçadora temível, pois alimenta-se de quase tudo o que mexe, por exemplo rãs, sapos, ratos, caracóis e até peixes.
Como se faz a Criação de Rãs
Depois de leres esta introdução ao assunto, fica logo claro como a produção de rãs é desafiante. Mas vais descobrir ainda mais sobre o tema logo depois de veres este vídeo que explica como se faz a Criação de Rãs…
Quanto ganha um Criador de Rãs
A Ranicultura pode ser uma atividade muito rentável. Contudo, não é possível apresentar uma estimativa de rendimentos médios, pois os ganhos dependem sempre da dimensão da produção.
Mas, em França, há quem chame a este setor o “pequeno tesouro verde”, pois trata-se de uma área muito interessante em termos económicos.
A venda da carne de rã é a via mais rentável, pois é considerada uma iguaria e está bem cotada no mercado.
A carne congelada custa cerca de 12,5 euros por quilo, enquanto a carne fresca pode atingir o dobro ou o triplo. Os animais vivos vendem-se entre 25 a 37 euros por quilo.
No Brasil, o quilo de rã inteira atinge valores da ordem dos 45 reais, enquanto as coxas podem custar 75 reais.
Um ranário da espécie Rana ridibunda, com 2.500 m2, pode permitir produzir 5 toneladas de carne por ano. Portanto, é só fazer as contas para ter ideia da dimensão deste mercado tão interessante.
Além do mais, países como Portugal e o Brasil têm condições climatéricas muito interessantes para o crescimento das rãs, pois elas apreciam o bom tempo quente. Assim, os gastos em aquecimento ou em centrais térmicas são mais reduzidos.
Mas fica connosco para saber mais…
O que faz um Ranicultor
Trabalhar em Ranicultura é muito exigente, pois requer elevados conhecimentos técnicos. Além disso, os profissionais têm de dedicar-se com muito empenho à produção, uma vez que só assim conseguem alcançar o sucesso.
As rãs são animais delicados e que requerem muita atenção. Por um lado, são esquisitas com a alimentação, pelo que todos os cuidados são necessários.
Além de serem sensíveis aos sabores, também precisam de boas doses de proteína, pois têm uma elevada taxa de crescimento. Por outro lado, é preciso assegurar que a ração utilizada não se dissolva na água e que se mantenha a flutuar.
O Ranicultor deve ainda estar muito atento às condições de higiene da água, uma vez que a limpeza é essencial para evitar doenças nas rãs. Assim é preciso manter uma vigilância veterinária permanente a estes animais, bem como garantir que as instalações estão devidamente limpas e arejadas.
O profissional tem também de vigiar a eventual redução da fertilidade e/ou a subida na mortalidade dos anfíbios. Pois são situações que podem ocorrer em ranários com falta de diversidade genética devido à consanguinidade na procriação.
Todavia, é igualmente necessário garantir que as rãs vivem num ambiente tranquilo, sem stress e sem ruídos ou movimentos bruscos, pois são animais que se assustam facilmente.
Podes consultar este Manual Técnico de Ranicultura para saberes mais sobre esta atividade.
Vem agora entender como é o trabalho rotineiro em Ranicultura…
Quais as suas funções
Há uma série de tarefas que um Ranicultor precisa de cumprir na rotina de trabalho. Mas as suas principais missões são preservar o bem-estar das rãs e a limpeza e o bom funcionamento das instalações.
Assim, os processos de trabalho fundamentais em Ranicultura estão relacionados com as fases de desenvolvimento destes anfíbios. Portanto, os ranários têm de ser adaptados a cada período da vida das rãs, o que exige tarefas distintas.
Desta forma, um ranário deve estar dividido nos seguintes setores:
- Reprodução
- Embriologia
- Girinagem
- Metamorfose
- Engorda
Nas fases de Engorda e de Reprodução, as rãs precisam de áreas secas e de uma área piscina. Mas as restantes fases ocorrem apenas em regime aquático.
O Ranicultor também deve ter o cuidado de adequar a alimentação a cada fase da vida das rãs. Assim, por exemplo, os girinos devem ser alimentados com ração em forma farelada. Mas já na fase posterior de crescimento, deve-se usar ração peletizada e larvas.
Como devem ser as instalações de Ranicultura
Além da divisão por setores, os ranários devem ser adaptados para maior conforto térmico das rãs. Elas gostam de ambientes quentes, mas é preciso acondicionar o espaço para as temperaturas ideais para cada fase do ciclo da vida.
Atualmente, já há tecnologias que podem ser usadas para adequar o ambiente às necessidades destes anfíbios. Mas é um investimento que nem todos os produtores de Ranicultura podem fazer.
Contudo, qualquer ranário deve ter comedouros, bombas aquáticas, telas e instrumentos veterinários.
Fica connosco para saberes o que podes esperar do mercado de trabalho nesta área…
Saídas no Mercado de Trabalho
A maioria das produções de Ranicultura existente é de tipo familiar, pelo que não existem muitas vagas de emprego na área.
Trata-se de um setor que é ideal para empreendedores, uma vez que está ainda muito inexplorado e tem grande potencial.
A França é o principal consumidor de coxas de rã do mundo, mas o país também importa toneladas de animais vivos.
A Indonésia é o país que exporta a maior quantidade de rãs e também tem um alto consumo interno.
O Brasil está entre os maiores produtores mundiais e, atualmente, já tem mais procura interna por carne de rã do que aquela que consegue produzir.
Na Europa, Suíça e Alemanha surgem depois dos franceses entre os maiores apreciadores de carne de rã. Esta carne é altamente valorizada, tanto em termos gastronómicos como nutritivos.
A carne de rã está em alta no mercado
Anualmente, consomem-se, em todo o mundo, 3,2 mil milhões de rãs, gerando uma receita da ordem dos 50 milhões de dólares/ano.
A carne de rã é apreciada pelo seu alto teor de proteína e baixo teor de gordura. Assim, é recomendada por especialistas de nutrição como uma das carnes mais saudáveis, pois também tem um elevado valor nutricional.
Além disso, é de fácil digestão e é rica em vitamina B2, fósforo e selénio. Mas também tem uma textura suave, de cor branca, e há quem a compare à carne de frango.
Por outro lado, é uma iguaria gastronómica em restaurantes gourmet ou requintados. Portanto, a carne pode atingir valores de mercado muito interessantes para os produtores. Os hipermercados e talhos também a vendem.
Atualmente, existe maior procura pela carne do que a produção existente, o que beneficia os preços praticados pelos produtores.
Mas as Criação de Rãs também pode ser feita para vender a pele. Esta serve para fazer, por exemplo, malas, mantas, entre outros produtos.
Todavia, também se usam partes dos intestinos das rãs para fins cirúrgicos. Já o óleo de rã entra na composição de medicamentos e cosméticos.
Mas também se podem criar rãs para ornamentar jardins ou para vender como animais de estimação. Esta é uma área ainda pouco explorada, mas que pode ter potencial.
Como é ter uma rã de estimação?
Mas vê como podes dar os primeiros passos nesta área…
Como entrar na Ranicultura
A melhor forma de começar a trabalhar na Ranicultura é procurando obter formação específica, pois é um setor demasiado exigente para aprender por tentativa e erro.
Mas para arrancar com uma produção nesta área é preciso cumprir legislação específica. Portanto, o primeiro passo de quem quer abrir um negócio próprio de Criação de Rãs é procurar informações sobre os licenciamentos necessários.
Licença para Criação de Rãs em Portugal
Em Portugal, a Ranicultura está integrada na área da Aquicultura e, portanto, os critérios de licenciamento são semelhantes.
Assim, é a Direção-Geral das Pescas e Aquicultura (DGPA) que emite a licença para Ranicultura. Mas, para isso, são necessárias uma Declaração de Impacte Ambiental (DIA) e uma autorização da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) da área da localidade onde vai ficar a instalação.
Além disso, o Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade (ICNB) deve emitir um parecer e a ARH – Administração da Região Hidrográfica tem de passar um Título de Utilização dos Recursos Hídricos.
Por fim, depois da instalação do ranário será necessário ainda obter a licença de exploração junto da Direção Regional de Agricultura e Pescas da zona respetiva. Mas só depois de uma vistoria se emite a licença.
Licença para Criação de Rãs no Brasil
No Brasil, também há legislação específica para a Criação de Rãs. Assim, os Ranicultores têm de estar cadastrados no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA).
Também se exige uma licença de produtor rural que é passada pelo Ministério da Pesca e Aquicultura, com a apresentação de diversa documentação. Contudo, também é preciso fazer o registro como Aquicultor na Federação da Agricultura Estadual.
Mas a atividade requer ainda o registro na Prefeitura do Município da instalação, na Junta Comercial, na Secretaria da Receita Federal e na Secretaria da Fazenda.
É ainda necessária uma licença ambiental (SEAMA) que pode ser emitida pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos.
Como se trata de um processo bem burocrático, o ideal é procurar informação junto de associações de produtores que podem até ajudar a legalizar a exploração.
Onde estudar Ranicultura
O Brasil é uma potência mundial na Ranicultura, sendo um dos grandes produtores industriais. Portanto, há muita oferta de formações nesta área, até porque o país tem desenvolvido novas tecnologias e abordagens para a Criação de Rãs.
Por outro lado, em Portugal, quase não existem cursos exclusivamente dedicados à Ranicultura. Mas alguns cursos das áreas da Aquicultura e da Zootécnica abordam a Criação de Rãs.
Portanto, a melhor forma de procurar formação na área será enveredando por uma dessas áreas. Contudo, também se realizam algumas formações sobre Ranicultura que vale a pena aproveitar. Assim, deve-se ter atenção às informações das associações do setor.
Nesse sentido, fica com as seguintes dicas de possíveis cursos que te podem por no caminho da Ranicultura…
Portugal:
- Associação Portuguesa de Aquacultores
- Mestrado em Engenharia Zootécnica
- Aquacultura e Recursos Marinhos (Curso Técnico Superior Profissional)
Brasil:
- Curso Criação de Rãs – Novas Tecnologias
- Ranicultura – Módulo Básico (Online)
- Criação de Rãs – Novas Tecnologias (Online)
Está visto que a Ranicultura é uma área profissional muito exigente e que requer grande paixão. A Criação de Rãs é um processo moroso e que precisa de muita dedicação, portanto é preciso ter mesmo talento e competências para ser Ranicultor. Se estás decidido a seguir este caminho, tem muito sucesso.