Há cada vez mais países a avançarem com a semana de 4 dias de trabalho como o melhor modelo laboral. Mas será mesmo o ideal? Vê as vantagens e desvantagens…
Diversos países, da Islândia ao Canadá, passando pelos EUA e pelo Reino Unido, têm avançado com projetos no sentido de implementar a semana de 4 dias de trabalho.
Portugal está também a avançar nesse sentido e o Governo vai apresentar, neste mês, aos parceiros sociais um projeto-piloto para lançar a semana de 4 dias de trabalho já em 2023.
O secretário de Estado do Emprego, Miguel Fontes, disse ao Público que a ideia é envolver tanto empresas do setor privado como do público.
Noutros países, como na Islândia, os resultados desta mudança na semana de trabalho, tiveram ótimos resultados, com os trabalhadores a sentirem-se mais felizes e mais produtivos.
Mas será que é mesmo assim em todo o lado?
Os defensores do modelo da semana de 4 dias de trabalho alegam que implica benefícios ao nível do bem-estar dos trabalhadores.
Mas também argumentam que a produtividade das empresas fica a ganhar, pois há menos acidentes de trabalho e menos faltas ao emprego. Além disso, gastam menos energia, o que implica poupança de custos.
Que modelo de semana de 4 dias de trabalho?
Há vários modelos de semana de quatro dias de trabalho que foram já testados em vários países. Em Portugal, neste momento, está ainda a estudar-se qual será a melhor ideia.
O projeto-piloto, em 2023, pode arrancar com um dos seguintes modelos, como admite ao Público o economista e professor da Universidade de Londres, Pedro Gomes, que vai coordenar a iniciativa:
- Empresas a adotarem o modelo por iniciativa própria, sem intervenção, nem apoio do Estado;
- Aplicar a semana de 4 dias de trabalho apenas no setor público;
- Focar o modelo laboral em empresas de setores específicos, como a indústria, com o financiamento do Estado.
Em qualquer dos casos, o objetivo é que seja algo voluntário em que os trabalhadores podem aderir e mudar de ideias, caso não corra bem.
Pedro Gomes refere que pode haver uma “redução significativa de horas”, mas sem cortes salariais. “Pode haver alguma concentração, mas não estamos a falar de fazer 40 horas em quatro dias”, diz ainda ao Público.
Vantagens da semana de quatro dias de trabalho
Entre os defensores deste modelo, há vários benefícios apontados que vão desde a saúde mental e da motivação dos trabalhadores à própria eficiência das empresas.
Mas vejamos, em termos sintéticos, algumas dessas vantagens.
Em primeiro lugar, ganha o ambiente porque o trabalhador desloca-se menos vezes para o trabalho, o que permite poupar combustível. Além disso, a própria empresa gasta menos água e menos luz.
Portanto, a empresa também reduz despesas nestas faturas, bem como na manutenção dos equipamentos que terão menos desgaste.
Em termos dos trabalhadores, há um maior equilíbrio entre a vida pessoal e profissional, o que os pode deixar mais satisfeitos no trabalho. Deste modo, podem concentrar-se melhor e produzir mais.
A saúde mental dos colaboradores é, assim, um dos aspetos mais valorizados por quem defende a semana de trabalho de quatro dias, como é o caso do psicólogo Samuel Antunes, especialista em Psicologia Social, do Trabalho e das Organizações.
“As pessoas quando são bem tratadas trabalham mais”, salienta Samuel Antunes na CNN Portugal.
Esta questão de aumentar a produtividade, tão importante para as empresas, também pode surgir pela necessidade de gerir melhor o tempo, o que impede distrações e, portanto, melhor aproveitamento do trabalho.
Desvantagens da semana de quatro dias de trabalho
Do outro lado da barricada, entre os menos otimistas com este modelo, destacam-se as desvantagens, tais como:
- Não se pode aplicar em todas as empresas (há algumas, como por exemplo certas fábricas do ramo automóvel, que precisam de laborar todos os dias, 24 horas por dia)
- Exige preparação e adaptação
- Trabalhadores precisam de adquirir outras competências (por exemplo, saber gerir o tempo)
- Modelo necessita de legislação atenta e adequada para que não haja abusos (obrigando as pessoas a trabalhar demasiadas horas nos 4 dias)
- Pode haver problemas no atendimento ao cliente, o que é prejudicial para a imagem das empresas.
Para lá destes problemas, também é preciso ter noção de que a produtividade não se resolve milagrosamente só porque o trabalhador está mais feliz.
“A produtividade não depende só do nosso esforço e desempenho, depende também dos meios para produzir, dos equipamentos à disposição, do grau de inovação dos equipamentos e depende também do tipo de produto que se está a realizar”, repara na CNN Portugal o professor e investigador em Economia na Universidade do Minho, João Cerejeira.
O que diz a lei sobre a semana de 4 dias de trabalho?
É preciso ter noção de que este é um caminho que se está a fazer. Ainda há muito para desbravar, de modo a encontrar a solução ideal.
Mas, na verdade, a atual Lei do Trabalho, em Portugal, já permite a redução do número de dias de trabalho por semana. Trata-se da fórmula do “horário concentrado” que permite juntar as 40 horas semanais de trabalho em apenas quatro dias.
Assim, em vez de dias de trabalho das 9 às 5, cinco dias por semana, estamos a falar de um cenário com quatro dias por semana das 9 às 19 horas, por exemplo.
Deste modo, podes já negociar com a tua entidade empregadora esta nova fórmula, se achares que serve os teus interesses.
Contudo, independentemente da tua vontade, é certo que a semana de 4 dias de trabalho vem aí – embora talvez não para todos! Mesmo assim, é bom que nos vamos habituando à ideia.
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