A escolha de um curso, ou de uma carreira profissional, pode ser um dilema para muitos jovens. Mas, afinal, como chegar à profissão de sonho? É disso mesmo que nos fala o Mental Coach Hugo Morais que é especializado em Orientação Vocacional, partilhando dicas e conselhos de como encontrar a verdadeira vocação.
Hugo Morais trabalha há mais de uma década com jovens, e com os seus pais, ajudando-os a definirem um futuro profissional. Isso passa por fazer escolhas imediatas, nomeadamente em termos do curso, ou da formação a escolher. Mas também é preciso seguir outros passos, planeando e preparando o futuro, para tornar o sonho numa realidade.
Estes são alguns dos tópicos da entrevista do Guia das Profissões com o Mental Coach que pode ver e ouvir no vídeo que se segue, e ler no texto que surge abaixo…
Guia das Profissões – A escolha de um curso, de uma profissão, pode ser complicada – e nem sempre acertamos à primeira. O próprio Hugo é um bom exemplo disso porque se iniciou na Engenharia Civil – mas acabou por se encontrar no Coaching. Como é que se pode reduzir a possibilidade de errar?
Hugo Morais – Eu não fazia a mínima ideia do que é que queria seguir. Sempre me disseram que tinha jeito para o cálculo, para os números. E um pouco por exclusão de partes, pensei em Engenharia. Quando fui para Engenharia Eletrotécnica, o critério foi a minha aptidão para os nomes e o facto de ser um bom curso em termos de empregabilidade e de estabilidade. Mas há outros critérios que, na altura, não coloquei em cima da mesa e não gostei de Engenharia Eletrotécnica. Logo ao fim de um mês ou dois, mudei para Engenharia Civil – já tinha um pouco mais a ver comigo, mas ainda assim, não era apaixonado por aquilo. Decidi fazer o curso até ao fim, não ia estar a mudar outra vez… Comecei a trabalhar na área. Trabalhei mais de 10 anos como Engenheiro Civil. Tive uma boa carreira. Estava tudo a correr bem, mas…
Guia das Profissões – Não se sentia realizado…
Hugo Morais – Não é um pormenor… Eu não era apaixonado por aquilo que fazia. Não me sentia empolgado quando acordava de manhã para ir para o trabalho. Então, fui começando à procura de alternativas, de outras coisas que, talvez, gostasse de fazer… E foi um processo de experimentar coisas novas. Foi um processo longo que é possível encurtar, com algumas metodologias e orientação vocacional – mas, acima de tudo, com ferramentas para estarmos mais despertos para aquilo que, verdadeiramente, valorizamos. Porque é isso que, mais cedo ou mais tarde, vai ditar as tuas escolhas.
Guia das Profissões – É esse o trabalho que faz com os jovens, enquanto coach, organizando programas de orientação vocacional?
Hugo Morais – Sim. Dentro do coaching, eu desenvolvi uma metodologia de quatro sessões. E o que é que procuramos nessas quatro sessões? Que o jovem identifique as suas paixões, o que gosta de fazer, que defina quais são as suas características. Com isso, vamos conseguir tornar clara uma visão do que é que se pode fazer no futuro. Essa é a fase um. Depois, as outras sessões acabam por desconstruir as nossas crenças limitativas.
Guia das Profissões – Crenças limitativas… O que é isso?
Hugo Morais – Nós temos um sonho, mas já há muita gente a fazer isso… Mas não há muita empregabilidade… Não há grande estabilidade associada… É preciso ter uma formação que eu ainda não tenho… Mas se fosse possível, como é que eu faria? E a partir daí, a pessoa percebe que pode levar mais tempo do que aquilo que estava a pensar, mas que é possível. E é traçar esse caminho.
Guia das Profissões – Portanto, também ajuda os jovens a traçar um plano para concretizar esse sonho?
Hugo Morais – O programa de coaching vocacional tem que terminar sempre com um caminho em que a pessoa percebe quais são os passos que tem de tomar. Porque a vocação por si só pode parecer uma coisa muito utópica, e a pessoa não fica automaticamente motivada. Agora, se tiveres no papel um plano em que se criam mini objetivos intermédios que te mantenham focado para um dia viveres a tua vocação, sabes que estás sempre mais perto. Só a identificares a tua vocação, por si só, não vais lá chegar…
Guia das Profissões – Não chega o sonho, é preciso pôr os pés no chão…
Hugo Morais – Sim. É preciso perceber o que é que isso exige em termos de caminho, de etapas, de graus que vais ter que subir. Tendo isso bem definido, percebes porque é que estás a fazer as coisas. Estás a caminhar para aquilo que verdadeiramente ambicionas. E isso é muito importante.
Jovens fechados na sua bolha a distanciados da realidade
Guia das Profissões – Já trabalha há cerca de uma década nesta área. Há diferenças entre os jovens de hoje e os de há 5 anos na forma como fazem as suas escolhas, ou nas suas indecisões?
Hugo Morais – Há diferenças. Todos nós percebemos que as gerações, ao longo dos anos, cada vez estão a ter menos vivências. E são essas vivências que, ao fim e ao cabo, nos dizem o que é que gostamos e o que não gostamos, em que somos bons… E com a pandemia, e o facto de se terem isolado ainda mais, isso está mais visível. Quando procuramos, dentro do meu programa de coaching, perceber quais são as características que eles têm e o que eles gostam de fazer, é mais difícil hoje do que era há cinco anos. Porquê? Porque isolaram-se muito e cada vez mais estão confortáveis dentro da sua bolha.
Guia das Profissões – Também há mais escolhas. Há mais opções. Hoje em dia, o universo de profissões é maior.
Hugo Morais – Há mais escolha para obter mais facilmente a informação. As coisas acabam por se aglomerar em plataformas, ou em certos sites, o que ajuda imenso a poupar tempo. Depois, acomodam-se a esse facilitismo, pensando que está tudo no Google e nessas plataformas. E acabam por tomar as suas escolhas simplesmente pela informação que é colocada no descritivo do site, do plano de estudos e por aí fora… Isto distancia-os um pouco da realidade, do que é o mercado de trabalho, do que está a pedir neste momento. Sinto essa falta de vivenciar as coisas cara a cara, de ir à Faculdade, de sentir o pulso, de sentir o ambiente… Muitos deles tomam opções sem nunca terem ido aos sítios! Acabam por agarrar-se muito à informação que existe online que é importante. Mas também é preciso ir ao sítio, falar com pessoas e perceber se se identificam ou não.
“Não nos devemos fechar no armário das profissões e numa gaveta”
Guia das Profissões – Falou de uma metodologia que usa no seu trabalho como coach. Mas não havendo uma fórmula mágica, como é que se faz esse equilíbrio entre o que é o sonho de um jovem e o que ele pode esperar efetivamente alcançar? Às vezes, há sonhos que parecem impossíveis…
Hugo Morais – Quando falo em metodologia, há coisas base que devem estar sempre associadas a um processo de orientação vocacional. Primeiro, o jovem tem que identificar em que é que é apaixonado; depois, definir quais são as suas características que fazem dele aquilo que é, o que é que ele é bom a fazer e que faz de uma forma mais fácil do que os seus colegas. Muitas vezes, os jovens dizem-me: eu não sou muito bom a nada! Mas a pergunta não é no que tu és muito bom: é no que és bom. Hoje em dia, os jovens também se comparam sempre ao superlativo! Por isso, nunca somos bons verdadeiramente porque estamos sempre a comparar-nos com os 0,1% de pessoas que são extraordinárias a fazer certas coisas – por um lado, porque têm grande talento, por outro, porque trabalharam imenso já nessa área. Mas nós só vemos o produto final. Então, quando pensamos no que somos verdadeiramente bons, chegamos à conclusão de que não somos a nada – por comparação. E isso não é justo porque ficamos sempre a perder.
Guia das Profissões – Há ferramentas que se podem usar nesse processo?
Hugo Morais – Há plataformas, como o Guia das Profissões que recomendo sempre, onde, através das características e do que gostamos de fazer, conseguimos perceber muita informação sobre várias profissões. Muitas vezes, a ideia que temos das profissões está completamente desatualizada.
Guia das Profissões – Até porque há novas profissões a “nascerem” quase todos os dias!
Hugo Morais – Com o avanço da tecnologia, estão constantemente a aparecer novas profissões. Costumo dar sempre este exemplo sobre uma pessoa que tenha jeito para a escrita. Muitas vezes, os pais dizem: mas isto de ser Jornalista ou Escritor já não dá muito. Hoje em dia, quem sabe escrever tem uma panóplia de profissões por onde pode exercer esse amor à escrita. Por isso, aconselho a que vão ao Guia das Profissões, onde aparece uma data delas – e esse é um trabalho que também deve fazer parte da pesquisa, para perceber no que podemos ser útil à sociedade do presente e do futuro, em vez de nos circunscrevermos ao armário das profissões e a uma gaveta. Isso já está obsoleto!
Guia das Profissões – Mas se os rótulos das profissões não devem ser o nosso ponto orientador, em que nos devemos focar?
Hugo Morais – É preciso ter uma visão de qual é o modo de vida que quero ter, perceber em que tipo de projetos quero estar envolvido, com que tipo de pessoas quero estar e como quero que o meu dia a dia seja.
Guia das Profissões – Tudo isso ajuda a definir o tal plano de ação rumo ao “sonho”…
Hugo Morais – Quando colocamos isto por escrito, já começamos a ter muita informação do que queremos em termos de profissão. Depois é preciso perceber qual o caminho para lá chegar, em termos académicos. De que formação preciso para ter sucesso nessa área? Isto tudo não é uma fórmula, é uma boa base para reduzir o erro nas nossas escolhas. Mas, acima de tudo, para estarmos mais confortáveis nas nossas opções. Em vez de ser por exclusão de partes, para ser mais de acordo com aquilo que eu sou, e com aquilo que quero ser. Nós sabemos para onde estamos a caminhar.
Guia das Profissões – É um processo de autoconhecimento também, em certa medida.
Hugo Morais – Sim. Muitas vezes, este processo de orientação vocacional acaba por ser importantíssimo para uma grande parte das escolhas que vou ter de fazer no futuro. Mais de 7 mil alunos, no ano de 2020/2021, desistiram logo no primeiro ano do curso. Muitos deles porque escolheram mal, mas outros porque, provavelmente, até estão no curso certo, mas não têm uma ideia do que é que se veem a fazer com o curso.
Guia das Profissões – Portanto, é um investimento para um futuro mais feliz?
Hugo Morais – Acaba por ser um investimento importante porque reduz a ansiedade, o nervosismo, a pressão que existe perante a pergunta: o que é que tu queres ser? Quando isso estiver mais ou menos resolvido, em termos de possibilidades, dá-te conforto e tranquilidade. Com o aproximar das decisões, não fazer a mínima ideia desequilibra-nos emocionalmente – e tomam-se decisões erradas. Mas faz parte! Não temos que acertar tudo à primeira e está tudo bem. Mas porque não hei-de estar mais consciente quanto às minhas escolhas? Não menosprezem esta parte porque isso vai dar frutos.