Ser “workaholic” é mau ou bom? A resposta à pergunta não é fácil, ao contrário do que alguns possam achar. Mas vem entender o que significa afinal, quais são os “sintomas”, como tratar quando é um problema – e faz o teste para saber se também és.
“Workaholic” é um daqueles termos em inglês que tomou conta do mundo, sendo usado em múltiplos países para definir aquelas pessoas que não conseguem parar de trabalhar. Mas o que significa isto, afinal?
Neste texto, vamos tentar entender um pouco melhor esta condição do “workaholismo“, ou seja, do vício em trabalho. Só isso já dá ideia de que é uma coisa negativa, mas pode nem ser sempre assim.
Qual o significado de “workaholic“?
A palavra “workaholic” significa, na tradução literal, viciado em trabalho. Trata-se, portanto, de alguém que trabalha de forma compulsiva e excessiva.
Este tipo de trabalhador tem dificuldade em “desligar” do trabalho, optando por trabalhar o tempo todo. Na sabedoria popular, podemos falar de “burro de carga”.
No fundo, o “workaholismo” é alguém que tem o vício do trabalho. E, como em todos os vícios, isso não é bom, pois implica problemas de saúde mental, além de afetar negativamente a vida pessoal.
Um médico do trabalho poderá detetar, nestes trabalhadores viciados, alguns comportamentos típicos de pessoas com outro tipo de dependências. Na verdade, quem passa por isso privilegia o trabalho acima de tudo o resto, inclusive da família e dos amigos.
Mas como perceber que estamos perante um problema mesmo?
7 sintomas de que podes ser “workaholic“
É habitual ouvir algumas pessoas a assumirem que são “workaholics“. Dizem-no até com orgulho, para manifestar o prazer que têm em trabalhar e naquilo que fazem. Mas será isso um problema, afinal?
Nem sempre o adorar trabalhar é uma “doença” ou um “vício”. Pode ser, simplesmente, essa paixão pelo que se faz, por exemplo, quando estamos na profissão dos nossos sonhos. E esse é, no fim de contas, o sonho de todos: fazer o que mais se gosta!
Mas, então, como saber que estamos perante um vício de facto? Fica atento a estes sinais que podem indicar que foste apanhado pelo “workaholismo“:
- 1. O trabalho é a coisa mais importante da tua vida – sem ele sentes um enorme vazio.
- 2. Quando não estás a trabalhar, ficas de mau humor.
- 3. Sentes-te desconfortável, ou muito stressado, quando não estás a trabalhar.
- 4. Andas a tentar trabalhar menos, mas não consegues. É uma obsessão!
- 5. Não aceitas as críticas dos teus próximos quando te dizem que andas a trabalhar demasiado.
- 6. O trabalho está a afectar a tua vida pessoal e a tua saúde, mas estás tão concentrado nele que nem te apercebes.
- 7. Só consegues pensar no trabalho, mesmo quando estás nos teus períodos de descanso.
Não é coincidência que alguns destes sinais sejam semelhantes aos que se detetam em dependentes de drogas, por exemplo. E é, neste campo, que estamos perante um vício, o verdadeiro “workaholic“.
As pessoas que chegam a este ponto podem viver em permanente ansiedade, além de se irritarem por tudo e por nada. Nos piores casos, podem desenvolver depressão ou cair em esgotamentos e “burnouts“.
Este tipo de trabalhadores tende também a ser perfecionista por excelência, o que torna difícil delegar tarefas – afinal, os outros não vão fazer tão bem como eles! A par disso, costumam ainda ter medo de falhar no trabalho, o que os leva a uma dedicação extrema.
Faz o teste e vê se és “workaholic“
A Faculdade de Psicologia da Universidade de Bergen, na Noruega, desenvolveu o que chama a “Escala de Adição ao Trabalho” que te pode permitir ter a certeza se, afinal, és ou não “workaholic“.
Esta escala tem em conta sintomas específicos que são característicos do “workaholismo“, usando os seguintes sete critérios para avaliar a probabilidade de um indivíduo sofrer deste vício:
- Pensas em como podes arranjar mais tempo para trabalhar.
- Passas muito mais tempo a trabalhar do que pretendias inicialmente.
- Trabalhas para reduzir sentimentos de culpa, ansiedade, desamparo e depressão.
- Já te disseram para trabalhares menos, mas não deste “ouvidos” a essas pessoas.
- Ficas stressado se não puderes trabalhar.
- Tu colocas em segundo plano hobbies, atividades de lazer e exercício físico por causa do trabalho.
- Trabalhas tanto que isso influencia negativamente a tua saúde.
Analisa a tua realidade à luz de cada um destes sete critérios, classificando-os segundo a seguinte escala:
- (1) Nunca
- (2) Raramente
- (3) Às vezes
- (4) Muitas vezes
- (5) Sempre
Se pontuares com “Muitas vezes” ou “Sempre” pelo menos quatro dos sete critérios, és provavelmente um “workaholic“, segundo os especialistas noruegueses que fizeram a escala.
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Vício no trabalho vs. Empenho no trabalho
Como já referimos antes, há uma diferença entre ser um “workaholic” problemático ou simplesmente um “workaholic” empenhado no seu trabalho. Mas como fazer a distinção?
A “Escala de Adição ao Trabalho” é uma boa ajuda. Mas o traço essencial é quando há um impacto negativo na vida pessoal e na saúde resultante do excesso de trabalho.
O que está em causa, no fundo, é que o “workaholismo” não é empenho, mas obsessão! É um desejo doentio de trabalhar, como se não houvesse mais nada para lá disso. E, muitas vezes, já não há porque os “workaholics” acabam por ver os amigos e a própria família a afastarem-se.
Contudo, existem casos em que as pessoas se dedicam muito ao trabalho com grande satisfação, seja para obter resultados que as realizam, seja porque adoram o que fazem.
Trata-se, assim, de um empenho positivo em que o trabalho surge como um prazer e não como uma obsessão de que não se pode fugir.
Estas pessoas conseguem conciliar essa entrega às suas profissões com a vida pessoal. Mas podem, por exemplo, decidir adiar relacionamentos amorosos porque desejam empenhar-se na progressão na carreira.
No caso de um viciado em trabalho, este é mais uma fuga para evitar relacionamentos ou preencher dificuldades emocionais, o que pode revelar algum problema psicológico neste campo.
Há tratamento para quem é “workaholic“?
Ter este vício pode acarretar consequências muito negativas para a saúde física e mental dos afetados. Mas também pode acabar até por prejudicar as empresas onde trabalham a longo prazo.
No início, trabalhar demasiado, por longas horas e sem “desligar”, pode parecer que está a aumentar a produtividade no imediato. Contudo, com o tempo e o aumento do stress, bem como da falta de descanso do cérebro, a produtividade real tenderá a decrescer.
Além disso, o trabalhador correrá mais riscos de cometer erros, o que pode resultar em perdas financeiras.
Em termos da saúde do trabalhador, o “workaholismo” pode mesmo contribuir para a morte prematura, agravando problemas de saúde cardíacos e de pressão alta, por exemplo.
Mas também afetará a saúde mental e, nos casos mais graves, pode até incapacitar as pessoas para o trabalho, fruto de esgotamentos e depressões graves.
Portanto, é preciso encarar este problema como uma condição séria de saúde que também tem efeitos negativos na vida das pessoas próximas destes viciados.
Como encontrar ajuda?
Um dos primeiros comportamentos típicos dos viciados é a negação do problema. Assim, procuram justificações, rebatendo as críticas e rejeitando terem o vício. Nesses casos, um amigo ou familiar próximo pode tentar chamá-los à razão, o que nem sempre é fácil.
Algumas empresas fornecem serviços de Psicologia aos seus trabalhadores. Esse será um ótimo primeiro passo para procurar ajuda, seja para ti próprio, seja para um colega.
Em todo o caso, quando é óbvio que a pessoa precisa de tratamento, há várias abordagens que podem surgir como solução. Vamos apresentar, já de seguida, algumas delas.
Psicoterapia
A abordagem psicoterapêutica é uma forma de descobrir as raízes do problema. O que levou a pessoa a chegar a este estado? Esta entrega obsessiva ao trabalho surge porquê?
Muitas vezes, o trabalho é um escape para vazios pessoais, ou reflete algum mal-estar psicológico da pessoa. Portanto, o recurso a um Terapeuta especializado ou a um Psicólogo, pode ser uma boa solução para tentar tratar o vício.
Grupos de Apoio
Sabes que há grupos de “Workaholics” Anónimos, tal como existem para os alcoólicos? É verdade e atuam também com um programa de “Doze Passos” que inclui os seguintes pontos (inspirados na versão dos Alcoólicos Anónimos):
- Admito que sou impotente quanto ao trabalho – que a minha vida se tornou ingovernável.
- Acredito que um Poder maior do que eu pode devolver-me à sanidade.
- Decido entregar a minha vontade e a vida aos cuidados de Deus, tal como entendo Deus.
- Analiso de forma minuciosa e sem medo a minha capacidade moral.
- Admito a Deus, a mim mesmo e aos outros os meus erros.
- Estou pronto para que Deus remova todos estes defeitos do meu carácter.
- Peço, humildemente, a Deus para que remova as minhas falhas.
- Listo todas as pessoas que prejudiquei e disponho-me a fazer as pazes com elas.
- Peço desculpas diretas a essas pessoas sempre que seja possível, menos nos casos em que as prejudicaria.
- Continuo a minha autoanálise e quando errar, admiti-lo-ei logo.
- Através da oração e da meditação, procuro melhorar o meu contacto com Deus para ganhar forças para continuar.
- Como tive um despertar espiritual com estes 12 passos, levo esta mensagem a outros “workaholics” para que também os pratiquem.
Esta lista de “Doze Passos” foi elaborada pelo grupo “Workaholics Anonymous” da Califórnia, nos EUA, mas pode ser replicada, ou adaptada, por qualquer grupo de apoio. Em Portugal, existe o grupo TCA Portugal – Trabalhadores Compulsivos Anónimos
Contudo, para lá deste formato mais tradicional, é sempre possível conhecer outras pessoas online com o mesmo tipo de problemas.
Nas redes sociais, por exemplo, os grupos do Facebook, são um espaço habitual de “encontro” de pessoas com os mais diversos tipos de interesses, ou de problemas.
Este tipo de espaços, seja online ou offline, permitem falar do que se está a sentir, bem como encontrar estratégias para solucionar o que tanto preocupa.
Medicação
Esta abordagem requer a intervenção de um médico, pois não deves andar por aí a automedicar-te. Mas vê que esta solução não resolve o problema em si. Contudo, pode ajudar a lidar com alguns dos “sintomas” associados ao “workaholismo“, por exemplo, a ansiedade e a depressão.
Em todo o caso, o recurso a esta opção não te deve impedir de procurar ajuda suplementar, nomeadamente através da terapia.
Em conclusão…
Nos dias que correm, é difícil “desligar” do trabalho. Afinal, com a Internet e os smartphones, está sempre a chamar por nós!
Por outro lado, trabalhar mais significa, muitas vezes, ganhar mais. “O tempo é dinheiro”, é uma das frases mais ouvidas no mercado laboral atual. Assim, é muito fácil cair no ciclo vicioso do “workaholismo” sob esse pretexto, até porque há prazos e muitas pressões para render sempre mais.
No meio deste turbilhão, como deixar de ser “workaholic“? Pode parecer difícil para quem está absorvido no trabalho, mas esperamos ter deixado algumas dicas preciosas nesse sentido. De qualquer modo, se te sentes a “bater no fundo”, procura ajuda!